Diagnóstico da escola (com relação à aplicação da Lei 10.639):
A escola enfrenta uma realidade que a envolve e desafia, não podendo estar alheia a este processo de mudança, pelo qual o mundo está passando.
Há de se resgatar como tarefa urgente e inadiável os valores tais como: cooperação, respeito aos direitos humanos, responsabilidades, honestidade, organização dos valores, compromisso político, competência técnica e ética, para uma atuação de mudança e transformação, exigindo uma nova postura da escola. A escola é um lugar privilegiado para o debate com crianças e jovens em busca do resgate dos valores que possam tornar a sociedade mais justa, mais humana tendo como objetivo permitir o exercício da cidadania em busca da felicidade individual e coletiva, e o seu ponto de partida são o reconhecimento dos direitos humanos e o exercício dos direitos e deveres da cidadania como fundamento da preparação do educando para a vida.
Partindo desse pressuposto é que a escola busca através da aplicação da Lei 10.639 programar uma educação desafiadora através de uma nova leitura sobre o lugar da África na história da humanidade e o papel do afro descendente no Brasil, não mais estigmatizados e nem postos à margem da história oficial, mais sim, como agentes construtores e transformadores da sociedade brasileira.
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Apresentação da Proposta
O Brasil teve grande influência dos negros africanos na vida econômica, social e cultural. Eles trabalharam na lavoura, e nas minas e, no período colonial, nos engenhos e plantações. Supõe-se que os primeiros negros africanos chegaram em 1538 e que só foram oficialmente libertos em 1888.
Suas marcas deixadas em nossa cultura estão presentes em nosso cotidiano. E foi graças à mãe negra que transmitia para seus filhos as estórias, lendas, contos, mitos, deuses e animais encantados vindos de suas origens que essas sementes plantadas na alma e no inconsciente de brancos e negros ainda hoje germinam em nossa cultura.
Nas famílias da época da escravidão eram as escravas que amamentavam e criavam os filhos da mãe branca: a ama negra dava de mamar ao bebê branco, o embalava no berço e lhe ensinava as primeiras palavras e as cantigas de ninar.
Os filhos das senhoras brancas conviviam até os cinco ou seis primeiros anos com os filhos das negras escravas com os quais brincavam de carrinhos de madeira, de pião, montar a cavalo nos próprios escravos entre outras brincadeiras.
No interior da Casa Grande as meninas brincavam de faz de conta de mucama e senhora mandando nas criadas. As bonecas eram suas filhas.
Além dessas brincadeiras as crianças escravas também brincavam aos domingos, que era seu dia de folga, de mamba, roda cutia, nadar nos rios, empinar papagaio entre outras tantas que chegaram até nossos dias.
Segundo a tradição existem no mundo três importantes jogos de reflexão: o xadrez no ocidente, o go na Ásia e o awalé ou mancala na África. Ao jogar mancala o que se está fazendo é repetir os ciclos da natureza: o cultivo do solo e as colheitas que seguem o ritmo das estações. Para se jogar utilizam-se as sementes. Suas estratégias são exercícios de cálculos matemáticos, pelos quais se desenvolve a rapidez mental, a lógica e a concentração. Tudo isso numa única brincadeira.
Partindo desses conhecimentos o projeto foi desenvolvido com crianças do 1º ano do Ensino Fundamental, buscando trabalhar de maneira lúdica a influência africana nas brincadeiras infantis.
Há em nossa alma cansada, mesmo sendo a vida atroz, criança eterna e levada que brinca dentro de nós.
(Alberto F. Bastos)
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Objetivos da ação:
_ Valorizar a cultura negra e seus afro- descendentes e afro-brasileiros, na escola e na sociedade;
_ Entender e valorizar a identidade da criança negra;
_ Redescobrir a cultura negra, embranquecida pelo tempo;
_ Trazer à tona, discussões provocantes, por meio das brincadeiras, lendas, costumes e cantigas de roda para desmitificar o preconceito existente com relação à cultura africana;
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Justificativa
O trabalho procurou envolver todas as disciplinas tendo como foco a educação voltada para a consciência da importância do negro para a constituição e identidade da nação brasileira e principalmente, do respeito à diversidade humana e a abominação do racismo e do preconceito, desenvolvido por meio de um processo educativo do debate, do entorno, buscando nas nossas próprias raízes e herança biológica e /ou cultural trazida pela influência africana.
Historicamente, o Brasil, no aspecto legal, teve uma postura ativa e permissiva diante da discriminação e do racismo que atinge a população afro-descendente brasileira até hoje. Nesse sentido, ao analisar os dados que apontam as desigualdades entre brancos e negros, se constatou a necessidade de políticas específicas que revertam o atual quadro. No entanto, isso só foi possível a partir da Lei 10.639 de 2003 que tornou obrigatório nas escolas a História da África e dos afro-descendente no Ensino Fundamental e Médio, fazendo com que em nossas escolas a história e tradição do povo negro no Brasil, desde a trajetória dos seus descendentes vindos da África fossem tratada com respeito e importância sem estereótipos e racismo.
Para tanto, foi elaborado o Projeto Sementes da África sobre as brincadeiras infantis das crianças negras no tempo da escravidão e que ainda influenciam nossas crianças até os dias atuais. Foram desenvolvidas atividades que possibilitaram aproximar os alunos da riqueza cultural afro-brasileira, privilegiando a questão da identidade, do respeito à diversidade e da auto-aceitação, como também aumentar a auto-estima da criança negra, pois se deve começar pelos pequenos a conscientização dos valores e importância da cultura africana em nossa sociedade.
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Estratégias de ação:
_ Ler para os alunos diversos tipos de textos como: histórias, contos, poesias, mitos e lendas sobre o tema;
_ Incentivar os alunos a construírem painéis através de recortes de imagens;
_ Oferecer ao aluno a oportunidade de se expressarem através de desenhos produzidos em folhas diversas e com variados matérias suas opiniões sobre o tema;
_ Levar os alunos a confeccionarem jogos através de materiais recicláveis (caixa de ovos, sementes, tampinhas de refrigerantes);
_ Cantar com os alunos cantigas de ninar e cantigas de rodas relacionadas à temática do projeto;
_ Brincar das mais variadas brincadeiras de origem africana como: mamba, mancala, cantigas de ninar e roda entre outras;
_ Incentivar os alunos a produzirem materiais para a montagem do cenário da apresentação de teatro;
_ Motivar e preparar os alunos para a apresentação de teatro sobre o tema.
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Metodologia empregada:
O Projeto Sementes da África foi desenvolvido seguindo as seguintes etapas: pesquisas bibliográficas onde se buscou subsídios, principalmente na obra de Heloisa Pires Lima A semente que veio da África, debate e construção de painéis feitos pelos alunos, confecção de jogos da mancala, confecção de cartazes sobre o continente africano na atualidade e da época da escravidão onde foram debatidos com os alunos através de rodas de conversas de produção de desenhos os temas relevantes sobre os costumes e tradições africanas, montagem de cenário para apresentação das brincadeiras africanas realizadas através de materiais recicláveis. Após debates e confecção de materiais sobre os jogos, cantigas de ninar, cantigas de roda, foi apresentado através de teatro o resultado final do projeto a toda a comunidade que foi convidada a participar na escola do Projeto sobre Cultura Africana.
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Critérios de avaliação:
_ A avaliação ocorrerá de forma processual e continua, pois o projeto visa à conscientização em longo prazo no processo educacional.
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Outras informações:
O projeto Sementes da África foi desenvolvido com crianças de 6anos que estudam no 1º ano do Ensino Fundamental com o objetivo de despertar desde a infância, a curiosidade pelas brincadeiras e pela cultura africana, permitindo assim que afro-descendentes busquem respeitar sua herança cultural cultivando um sentimento de orgulho e não de discriminação como vem ocorrendo no decorrer dos tempos.
O Projeto será ampliado para os alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, buscando um novo enfoque através da influência africana em nosso cotidiano.
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Descrição dos anexos (fotos, atividades, etc)
As fotos acima mostram algumas atividades desenvolvidas durante o Projeto Sementes da África.
Após a leitura do livro de Heloisa Pires Lima, A semente que veio da África, que entre tantas valiosas informações, mostrou os jogos com sementes de baobá, bem como a lenda sobre essa importante e fascinante árvore para a cultura africana. Foram produzidos pelos alunos desenhos que ilustram a vida, a cultura a arte e algumas brincadeiras e jogos das crianças africanas. Procurou-se focalizar nos jogos de sementes como, por exemplo, a mancala que é um jogo de raciocínio que pode ser jogado por crianças e adultos. Foram utilizadas embalagens de ovos para a confecção dos tabuleiros e de sementes de feijão e milho para se jogar. Também foram confeccionados cartazes com recortes de imagens que ilustram as brincadeiras infantis do tempo da escravidão no Brasil, bem como, de outras que ilustram algumas partes do continente africano na atualidade e da herança cultural que esses povos deixaram aos seus descendentes aqui no Brasil.
Para encerrar o projeto foi apresentado para a comunidade um teatro sobre o jogo da mancala, mamba, cantigas de ninar, cantigas de rodas, brincadeira com carrinhos e piões de madeira. Foi montado na sala de aula um cenário onde se tentou reproduzir uma sala de estar e o quintal do período colonial onde as crianças encenaram a mucama ninando o bebê do senhor de engenho com cantigas de ninar como o boi da cara preta, nana nenê entre outras. Outros representaram o jogo da mancala, que na África era jogado com as sementes do baobá. Os demais alunos representaram no mesmo espaço o quintal da casa grande, crianças brincando de cantigas de roda de influência africana. Também foram recitados poemas da cultura africana. Tudo em um cenário que procurou reportar os expectadores aos tempos coloniais mais buscando sempre ressaltar a importância de se preservar a cultura dos afros- descendentes e sua influência em nossos dias.
Algumas das imagens do painel África cultura também foram tiradas do livro A semente que veio da África da autora Heloisa Pires Lima com ilustrações de Véronique Tadjo.
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Referências bibliográficas:
Livros:
LIMA, Heloisa Pires. A semente que veio da África. 4 ed. São Paulo: Salamandra, 2005.
Sellier, Marie. A África, meu pequeno Chaka. São Paulo. Companhia das Letrinhas, 2006.
TIMBÓ, André Alves. Hoje é dia de Geografia, 3º ano. 1ed. Positivo. 2007.
VASCONCELOS, José Antonio; MOREIRA, Claudia Regina Baukat Silveira; JOANILHO, André Luiz. Hoje é dia de História, 3º ano. 1 ed. Positivo. 2007.
Sites visitados:
BARROS, Jussara. Resgatando brincadeiras antigas. Brasil Escola, disponível em www.brasilescola.com.br.
BERNARDES, Elizabeth Lannes. Jogos e brincadeiras tradicionais: um passeio pela História, disponível em www.faced.ufu.br.
COELHO, Luciano Silveira. Jogos e brincadeiras africanas, disponível em www.portalprofessor.mec.gov.br.
Revista do Professor. Mancala: Jogo de tabuleiro de origem africana explora valores e habilidades. Out/dez 2008.
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segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Projeto- Sementes da África
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
A HORA DO CONTO
OS CAUSOS DE " SEU GRAEFF"
O PICA PAU
Esses causos foram contados por seu Eloi Graeff, um aposentado que viveu em Porto Amazonas e gostava muito de pescar e contar "causos".Contou-nos que em certa ocasião quando estava pescando lambaris no rio Iguaçu começou a escutar um barulho estranho.
Ele parou de pescar e durante algum tempo ficou ouvindo o barulho que era assim: toc,toc,toc,...chiuu,chiuu...toc,toc,toc,chiuu,chiuu...
Ué! Ele saiu por entre as árvores para descobrir de onde vinha o barulho. Tal não foi sua surpresa ao avistar em uma árvore, muito dura, um pica-pau trabalhando para fazer sua casa.
O estranho barulho era proveniente dali, pois, o pica-pau ficava com o bico vermelho de calor e voava até a água para esfriá-lo.
E ao colocar o bico na água fazia chiuuuu levantando vapor.
O TIZIU
Em outra pescaria narrada por seu Graeff, aconteceu o seguinte:
O dia não estava propício para a pescaria, pois ele jogava a linha na água e nada do peixe beliscar. Teve de trocar de lugar várias vezes até ficar perto de uma pedra.
Ele ficou muito tempo e nada dos peixes aparecerem. Foi aí então que apareceu um tiziu ( Pássaro comum na região) e sentou na ponta da vara. Ele espantava o pássaro, mas este voava e voltava a pousar na vara, incomodando o pescador. Foi aí que o pescador pensou: este pássaro vai parar de incomodar. Vou aprontar uma para ele.E então quando o pássaro aproximou-se da vara, ele atirou-se para o lado e o pássaro caiu na água e morreu afogado.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
A HORA DO CONTO- CONTO DO PESSEGUEIRO
A HORA DO CONTO
O CONTO DO PESSEGUEIRO
Conta-se que a alguns anos atrás vivia em um sítio nas proximidades da cidade de Porto Amazonas, um senhor que atendia pelo apelido de “Fazendeiro”. Era uma pessoa de gestos simples, mas que contava com um atributo que poucas pessoas têm, o de ser muito imaginativo. Ele imaginava e logo contava seus “causos” a seus amigos, certo de sua veracidade. Certa ocasião ele narrou a seguinte história, dizia ele que tinha um cachorro de estimação muito querido e prestimoso, que onde ele estava lá também estava seu fiel amigo. Viveram felizes por muito tempo, até que um dia sem mais nem menos o cachorro enlouqueceu. O cão rosnava, babava e avançava em todos que tentavam se aproximar dele. Fazendeiro então se viu em um grande dilema!O que fazer com seu tão fiel e amado companheiro? Matar? Não, isso nem pensar!!! Foi então que ele teve uma ideia, resolveu amarrar o cachorro no pomar que ficava nos fundos da propriedade, afim de esperar para ver se seu companheiro iria melhorar. Assim foi feito. Levou o cão até um pessegueiro e amarrou-o lá. O tempo ia passando e nada do cão mostrar melhoras. Fazendeiro ia todos os dias levar alimentos e água a seu amigo e era sempre recebido com agressividade por aquele que já tinha sido seu companheiro fiel até mesmo em grandes caçadas, mas agora não mais o reconhecia. Depois de algum tempo quando Fazendeiro foi mais uma vez até o pomar visitar seu cachorro, qual não foi sua surpresa ao chegar próximo ao pessegueiro ele percebeu que a árvore também estava muito estranha, pois começou a produzir vários frutos,mas não pêssegos como era de se esperar,mas sim, bananas, abacates, laranjas,peras, maçãs e até mesmo, pode acreditar uma enorme e suculenta jaca. Essa era a prova a doença da loucura do cachorro havia contaminado o pessegueiro que passou a produzir os mais variados frutos. E isso é mais pura verdade!!!
FIM
domingo, 17 de julho de 2011
PROJETO: PLANTIO DE ÁRVORES NO CAIS DO PORTO
INTRODUÇÃO
O Projeto: Plantio de árvores no Cais de Porto Amazonas, procurou atingir diretamente os alunos da 2º Série B_ da Escola Municipal _ Professor Antonio Tupy Pinheiro_ EF, para que através dele possamos despertar a sensibilidade da comunidade com relação às questões ambientais que envolvem o cais do Porto, um ponto turístico importantíssimo, não só para a História do município como também para o contexto da economia paranaense; através do resgate histórico da importância que o local teve no século XX.
Com o Projeto pretendeu-se através de parceria com a Divisão Municipal de Meio Ambiente e com a colaboração do Grupo Ambientalista de Porto Amazonas (GARI), fazer o plantio de mudas de árvores nativas nas margens do rio Iguaçu no local do antigo cais, onde o Coronel Amazonas fundador da cidade ancorava seu barco, sendo que o plantio ocorreu no mês de abril, dentro do Projeto do Governo do Estado de replantar a Mata Ciliar e se estendeu por todo o ano letivo conforme atividades relacionadas no decorrer do projeto.
OBJETIVO GERAL
* Colaborar no fortalecimento de ações dos movimentos ambientalistas locais na preservação da Mata Ciliar, bem como, resgatar a História de um importantíssimo ponto turístico do município, o Cais do Porto.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
* Estimular a participação dos alunos na luta pelo reflorestamento da Mata Ciliar;
* Promover espaços de discussão e ações sócios - educativas na escola envolvendo professores e alunos para discutir a questão ambiental e a importância da preservação da Mata Ciliar;
* Contribuir com o resgate histórico do cais do porto onde começou o Município de Porto Amazonas;
* Desenvolver atividades que despertem o interesse dos alunos na preservação dos recursos ambientais.
DESENVOLVIMENTO
O projeto foi iniciado no mês de março com atividades relacionadas ao Dia Mundial da Água, foram abordados temas sobre o consumo de água no planeta, sendo que, primeiramente foi trabalhado com os alunos o ciclo da água, a formação e a importância das chuvas para a vida no planeta, cuidados que devemos ter no consumo e conservação dos mananciais de água. Em seguida foi proposta uma discussão sobre: A Questão da Escassez da Água no Planeta. Após o debate foi proposto uma atividade onde os alunos teriam que representar a questão da água através de desenhos, sendo que os mesmos participaram de um concurso de desenhos sobre o “Dia Mundial da Água”, promovido pela Divisão Municipal do Meio Ambiente.
No mês de abril, atendendo a um convite do Grupo Ambientalista de Porto Amazonas (GARI) e da Divisão Municipal de Meio Ambiente, os alunos das segundas séries A e B, participaram do plantio de mudas de canela do mato, na faixa ciliar do rio Iguaçu, no Cais do Porto de Porto Amazonas.
Na ação ambiental foram distribuídas cartilhas sobre a Mata Ciliar pelos ativistas do GARI, além de terem sido dadas explicações sobre a importância das árvores para a biodiversidade e para a preservação do rio Iguaçu.
Esse acontecimento aguçou muito o interesse dos alunos pela preservação do Cais do Porto, o que fez com que alunos e escola passassem a dar mais destaque ao assunto da preservação da Mata Ciliar, através da confecção de cartazes informativos, anexados pelos corredores da escola e distribuídos para a comunidade.
Aproveitando o tema a professora sugeriu começar um trabalho de “Resgate da Memória Histórica do Cais do Porto: Onde tudo começou...”, pois é um local de muita importância não só para o município de Porto Amazonas, como também para o contexto estadual, pois o porto de navegação fluvial de Porto Amazonas foi um dos mais importantes caminhos de transporte do progresso do estado do Paraná no início do século passado. (Linha do Tempo em anexo). E assim foi dado início ao Projeto: Plantio de árvores no cais de Porto Amazonas.
A primeira atividade realizada foi feita através do poema Saudade de autoria de Jáder Bianco descrito a seguir:
SAUDADE
I
O porto estava lotado
E o povo andando apressado
Era aquele vai e vem
A viagem era embarcada
Quase não existia estrada
Ainda não havia o trem
Ouvi o vapor apitar
Era hora de zarpar
Do cais de Porto Amazonas
Ali na primeira curva
O marujo até se encurva
Para dar adeus à sua dona.
II
A viagem era demorada
A carga muito pesada
O vapor ia serpente Nando rio abaixo
Lá adiante tinha pescador
À noite ouvindo o ronco do vapor
Para vê-lo passar, corria acender um facho
Peixe tinha em abundância
Lembrando ainda era criança
Das primeiras pescarias
Passava o v apor carregado
A gente ficava assustada
Depois só havia alegria.
III
Eram tantas lanchas e vapores
Que transportavam valores
Com certa segurança e pontualidade
Os portos mais movimentados
Foram crescendo virando povoados
Transformaram-se em cidades
Porto Amazonas e a sonhada Palmira
De cidade à condição de distrito vira
São Matheus, Irineópolis, antiga Valões
União da Vitória e Porto Vitória
Que fazem parte da história
Desde os desbravadores dos sertões.
IV
Se voltarmos rio acima
A largura do rio termina
Onde a margem fica estreita
E ali em Paula Pereira
Que o Iguaçu sobe pra esquerda
E o Negro pra direita
Seguindo o rio Negro adiante
Não precisa andar bastante
Para chegar a Marcílio Dias
E encontrar o rio Canoinhas
De onde erva-mate vinha
Nas barcas seguindo as hidrovias.
V
Entre as matas com taquaras
Logo adiante é Três Barras
Que ficava antes de Antônio Olinto
O porto do Corvo Branco faz lembrar
Terra do Capitão França Bach
Pois ali morava o distinto
A viagem continuava subindo
As embarcações iam sumindo
E cada curva um apito
Rio da Várzea e Barra Grande
E o Negro que se expande
A cidade acolhedora e o rio muito bonito.
Após a leitura do poema foram feitas atividades procurando analisar como era o cuidado que as pessoas tinham com o rio, pois o poema relata que tinha muitos peixes e que ele era utilizado para fazer o transporte de madeira e erva- mate. Foi proposto um debate sobre a questão ambiental da época, que se por um lado o rio era mais limpo pela necessidade da navegação, por outro transportava muita madeira e erva-mate ambas as atividades extrativista que acabaram prejudicando o meio ambiente, pois colaboraram com a devastação das matas no estado.
A partir desse debate foi proposto aos alunos que fizessem entrevista com seus familiares para descobrirem como era a vida das pessoas no tempo dos vapores, como trabalhavam e como era o local do cais do porto na época da navegação. Em seguida foi feito leituras do livro “Vapores” de Arnoldo Monteiro Bach, que relata fatos do cotidiano das pessoas no tempo do auge da navegação no rio Iguaçu. Baseado em um relato sobre a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que foi narrada pelo senhor Dirceu José de Britto, os alunos fizeram desenhos que foram expostos em um mural da escola. Onde foi procurado enfatizar como era as margens do rio Iguaçu na época em que era utilizado como um cais natural e assim mesmo ainda mantinha uma parte da Mata Ciliar. Logo em seguida foi confeccionado um mapa conceitual através de fotos do cotidiano do cais, com seus vapores, com mercadorias e pessoas sendo transportadas, assim como fotos da limpeza e conservação das margens contra a erosão. Logo em seguida foi relatada a História do progresso da pequena colônia que pertencia ao município de Palmeira e que graças ao movimento do Porto de Navegação e da Estrada de Ferro conseguiu se emancipar e tornar-se município autônomo em 1947 (Linha do Tempo em anexo).
Após um mês voltamos ao cais para verificarmos se as mudas que tinham sido plantadas haviam brotado e após termos feito a limpeza em torno das mudas de canela nativa constatamos que algumas não tinham vingado. Ao retornarmos a escola entramos em contato com a Divisão Municipal de Meio Ambiente e solicitamos, mas algumas mudas para que pudéssemos replantar no local. Alguns dias depois voltamos e foi replantado para garantir que o local terá ao menos mais algumas árvores, pois nos últimos anos o local tinha sido transformado em um lixão e só agora é que a Prefeitura Municipal (seu prédio atual é uma réplica do vapor Cruzeiro) está revitalizando com obras de infra-estrutura para o turismo e assim estamos contribuindo com o plantio das árvores que serviram entre outras vantagens para fazer sombra nas margens do cais que hoje está totalmente desprotegida.
Durante os meses seguintes foram trabalhados assuntos (conforme o planejamento anual da 2º série), relacionados à questão do solo, água, zona rural e urbana, história e geografia do município, sendo que todo o tema foi relacionado com a questão da revitalização e preservação do Cais do Porto, procurando sempre enfatizar as atitudes que precisamos ter para podermos melhorar o lugar que vivemos.
No mês de agosto fizemos um passeio pela zona rural do município procurando perceber as transformações provocadas pelo homem na natureza e visitamos outro antigo cais, que foi o primeiro local onde os vapores ancoravam e que se chamava Porto das Laranjeiras, nesse local os alunos perceberam que a Mata Ciliar já está totalmente refeita, pois, hoje se encontra dentro de uma propriedade particular e os proprietários preservaram às margens do rio. Também observaram que hoje em dia no município tem uma vasta área de plantações de frutas, principalmente de maçãs e que por isso é considerado um dos maiores produtores da fruta do Estado do Paraná. Com esse passeio todos voltaram mais entusiasmados e acreditando que se continuarem cuidando das árvores que foram plantadas no cais do Porto que fica no centro da cidade poderá conseguir refazer a Mata Ciliar.
Após o passeio foram realizadas atividades relacionadas com a importância da preservação ambiental, sobre o uso correto do solo, a reciclagem, a maneira correta como devemos usufruir os recursos naturais e questões importantes sobre como utilizar os recursos da natureza em nosso favor, sem a necessidade do consumismo desenfreado e mostrando que é possível vivermos e termos uma vida sadia se soubermos utilizar bem os recursos que a natureza nos dá.
No Dia da Árvore retornamos ao cais para cuidarmos das árvores e constatamos que todas estavam crescendo bonitas. Nessa ocasião convidamos o Senhor Otávio de Melo, que é avô de um dos alunos, e que trabalhou no período da navegação, para contar suas experiências. Todos escutaram atentas as suas histórias e ele comentou da importância do projeto que os alunos estão participando para a preservação desse importante local, pois toda a História do Município começou através desse cais.
LINHA DO TEMPO
HISTÓRICO DE PORTO AMAZONAS
1870- O Senhor Coronel Amazonas de Araújo Marcondes, estudou e projetou o início da navegação no rio Iguaçu, vindo da região dos Campos de Palmas;
1880- Os 360 quilômetros eram navegáveis do rio Iguaçu era percorridos por canoeiros que transportavam mercadorias. Em 1882 foi lançado às águas do rio Iguaçu o vapor “Cruzeiro” de propriedade do Coronel Amazonas. Viagem inaugural com destino a Porto União foi bem sucedida e duraram dois dias;
1890- O segundo vapor, o “Visconde de Guarapuava”, iniciou a rota em 1889 e logo após o rebocador “Brasil”;
1900- Após o lançamento dos dois vapores, o movimento foi se intensificando, surgindo inúmeros vapores para atender à demanda do transporte fluvial da erva-mate, madeira e mercadorias das mais variadas;
1910- A navegação crescia em ritmo acelerado, surgia à ferrovia que encurtava caminhos e facilitava a comunicação com outras localidades. Diversas empresas que exploravam o transporte fluvial se fundiram e formou a Sociedade Anônima Lloyd Paranaense, o que melhorou a eficiência do transporte fluvial. O município era colônia da Comarca de Palmeira;
1920- Entre 1915 e 1920 o povoamento teve um expressivo progresso, pois nesta época havia grandes empresas como Leão Júnior, Betega e outras.
A erva- mate, a madeira, e todo o tipo de mercadorias eram trazidos da região Sudeste e dos municípios de Porto União, União da Vitória, São Mateus etc., dezenas de vapores transportavam e depositavam em armazéns e nos pátios nas proximidades da linha férrea aguardando o embarque para os grandes centros de industrialização;
1930- Durante está década o Governo Federal criou a Comissão de Estudos e Melhoramentos do rio Iguaçu, a fim de dar assistência técnica às deficiências apontadas pelo regime hidráulico do rio, beneficiando assim a navegação. Os trabalhos eram de limpeza do leito, retirando pedras, árvores caídas e outros entulhos. Trabalho desenvolvido até 1976.
1940-Instalada à Empresa de Engenharia Machado da Costa (a maior da América Latina).
1947- O município foi elevado à categoria de Município autônomo, independente do Município de Palmeira.
1950- A cidade viveu momentos de intensa agitação. A ferrovia veio dar continuidade ao ritmo acelerado que a navegação trouxe o pátio da estação sempre movimentado, carregavam e descarregavam mercadorias dos armazéns proporcionando empregos à população.
1955- Nesse período cessou completamente a navegação do rio Iguaçu devido à construção da rodovia do Xisto;
1960- A Estrada de Ferro do Paraná é ampliada e o município continua progredindo através da Estrada de Ferro que era a principal via de transporte;
1970- Houve a desativação da Estrada de Ferro, todas as semanas partiam muitas famílias de mudanças, caracterizando assim o declínio e o empobrecimento do Município. Somente a partir de 1976 que se iniciou o plantio de maçãs, que então a economia voltou a melhorar;
1980- Nessa década é iniciada a Festa da Maçã que passará a fazer parte do Calendário Turístico da cidade, comemorada todos os anos no mês de fevereiro;
1990- Nesta década aumenta a produtividade da maçã e o município passa a ser conhecido como sendo “A Terra da Maçã” por ser um dos maiores produtores de maçãs do estado do Paraná.
A comercialização atende os mercados regionais, estendendo-se aos estados de: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco e exporta a países vizinhos como Argentina, Uruguai e Paraguai.
2000- O município passa a plantar e comercializar mais frutas como: ameixa, caqui, pêra, Kiwi e morangos. Sendo que também ampliou seu mercado de exportação, pois as frutas agora são exportadas para a Europa e Ásia. Toda a economia do município está voltada para a produção agrícola.
CONCLUSÃO
Ao longo do ano letivo de 2010, procurando cumprir com os objetivos proposto no planejamento anual da 2 º série, que prevê o desenvolvimento de atividades relacionadas com o conhecimento da História e Geografia do Município, bem como com as questões relacionadas com a água, solo, desmatamento e preservação ambiental foi trabalhado o Projeto: Plantio de árvores no cais de Porto Amazonas, tendo, pois como finalidade despertar nos educandos o interesse por esse local, que faz parte do contexto histórico, que fica bem próximo da escola e, no entanto era desconhecido de muitos alunos, pois no desenvolvimento do trabalho quando as famílias foram envolvidas no projeto através das entrevistas, percebeu-se que as mesmas não tinham o hábito de contarem as Histórias de como a cidade surgiu e muitos nem se quer conheciam o local que fica próximo ao centro da cidade.
Ao concluir o projeto pode-se constatar, inclusive através das atividades, que o interesse dos alunos foi despertado pelo cuidado que devemos ter com as árvores e principalmente às que estão sendo replantadas nas faixas ciliares, como no caso à margem do cais do Porto, sendo que em uma das suas margens estava totalmente desprotegida.
Igualmente, constatou-se que as famílias passaram a dar mais valor a esse local, inclusive indo passear com seus filhos no cais do porto aos fins de semana, pois os mesmos queriam estar sempre cuidando e verificando se suas árvores estavam bem cuidadas e isso foi um dos fatores que colaborou para o sucesso do desenvolvimento do projeto.
A VINDA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA PARA O BRASIL
A vinda da família real portuguesa para o Brasil
Introdução
A leitura é a essência de toda a formação humana. É através dela que enriquecemos nossos conhecimentos, ampliamos nossa visão de mundo e orientamos nossas atividades. Tendo em vista a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos foi desenvolvido o presente trabalho sobre a Vinda da família real para o Brasil, procurando enfocar os motivos que levaram a essa decisão e relatando as condições da viagem, que viria a ser conhecida como “A maior fuga oceânica da História e o que essa viagem representou para a formação do futuro Brasil.
Legenda: Chegada de D. João VI a Salvador/Óleo sobre tela
Cândido Portinari/ 1952/Coleção Banco BBM S/A
Cândido Portinari/ 1952/Coleção Banco BBM S/A
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para a motivação do tema foi utilizado uma imagem da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, para que dessa forma, levasse o aluno a analisar e interpretar a fonte histórica que será utilizada pois de acordo com Maria Auxiliadora Schimidt – “O primeiro passo em sala de aula é fazer o aluno saber identificar o documento que está sendo trabalhado, se é uma fonte primária ou uma fonte secundária, e como ele se apresenta: de forma escrita, oral, iconográfica, material, arqueológica, por exemplo”.
Em seguida aos questionamentos sobre as fontes históricas, passou-se a leitura de diversos documentos históricos, que narram os fatos referentes ao conteúdo, procurando avaliar seus diversos significados , pois, segundo Jacques Le Goff – “O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados, desmistificando-lhe o seu significado aparente. O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias.”
Os conteúdos e as atividades foram trabalhados partindo da desmistificação dos documentos, para possibilitar ao aluno a formação da consciência histórica procurando fazer vários recortes temporais, e usando diferentes conceitos de documentos, levando a superação da noção de História como verdade absoluta.
A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL
Chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808,
1999, Óleo sobre tela, 609 x 914 milímetros. Coleção Particular.
DESCRIÇÃO
O quadro representa, no centro, a nau Príncipe Real, onde tinham viajado a Rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e os seus dois filhos, os infantes D. Pedro e D. Miguel, e o infante espanhol, D. Pedro Carlos de Bourbon, no momento em que acaba de fundear, usando a sua caranguejola, vendo-se o estandarte real a flutuar no mastro principal. Os pequenos botes ao redor da nau transportam personagens que não quiseram deixar de cumprimentar imediatamente a família real, já que o desembarque só se realizou no dia seguinte. Do lado esquerdo está a nau britânica Marlborough, que se encontrava na baía, a disparar uma salva, com a guarnição colocada nas vergas.
Do lado direito pode ver-se a nau Afonso de Albuquerque, que tinha transportado a princesa Carlota Joaquina e quatro das suas seis filhas, a começar a ferrar as velas preparando-se para entrar no vento e fundear. Atrás está a Medusa, que tinha transportado o ainda secretário de estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, António de Araújo de Azevedo, futuro conde da Barca, e a fragata Urânia, que escoltou o Príncipe Regente durante toda a viagem. Ao lado destas, a nau britânica Bedford, que tinha acompanhado a frota portuguesa desde as Canárias.
Mais à direita, na linha de costa o fumo branco representa a salva do forte de Villegaignon, que já não existe, vendo-se também - da esquerda para a direita - a costa de Niterói, a entrada da baía do Rio de Janeiro e o Pão de Açúcar.
INTERPRETANDO O DOCUMENTO
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SITUAÇÃO DA EUROPA NO MOMENTO DA PARTIDA
Embarque de Dom João VI para o Brasil no dia 27 de Novembro de 1807, foto de Mário Novais, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A10830 |
Nos primeiros anos dos séculos XIX grande parte da Europa estava sob o domínio de Napoleão Bonaparte, que se tornara imperador francês em 1804. O único obstáculo à consolidação de seu Império na Europa era a Inglaterra, que, favorecida por sua posição insular, por seu poderio econômico e por sua supremacia naval, não conseguiria conquistar. Para tentar dominá-la, Napoleão usou a estratégia do Bloqueio Continental, ou seja, decretou o fechamento dos portos de todos os países europeus ao comércio inglês. Pretendia, dessa forma, enfraquecer a economia inglesa.
Outro grande problema para os planos expansionistas de Napoleão era a posição dúbia do Governo de Portugal, que relutava em aderir ao Bloqueio Continental devido à sua aliança com a Inglaterra, da qual era extremamente dependente. O príncipe D. João, que assumira a regência em 1792, devido ao enlouquecimento de sua mãe, a rainha D. Maria I, estava indeciso quanto à alternativa mais menos danosa para a Monarquia Portuguesa, porém a decisão foi tomada e é o que veremos a seguir.
CONVERSANDO E APRENDENDO
O Bloqueio Continental foi uma estratégia da política externa napoleônica para derrotar um adversário. Você conhece algum país do mundo que adota este mesmo tipo de estratégia, na atualidade?
OS MOTIVOS DA VIAGEM
Desde o final do século XVIII, alguns letrados do Império Português retomavam a idéia, esboçada no século anterior, de mudança da sede da Coroa para a América. Devido à importância econômica das colônias americanas e à insegurança reinante na Europa, eles defendiam uma profunda reforma na estrutura política do império, que culminaria com esse deslocamento geográfico do poder monárquico. Essa teoria porém não é a mais difundida entre os historiadores, a partida da Família Real para o Brasil é narrada por muitos como tendo sido uma fuga súbita e atropelada, mas os acontecimentos narrados a seguir demonstram o contrário e defendem a teoria da fuga planejada.
Ao chegar ao Brasil , a corte portuguesa desembarcou com todo o acervo da Biblioteca Real – origem da atual Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro – devidamente embalado e catalogado, o mesmo acontecendo com obras de arte e documentos do arquivo real. Numa fuga decidida às pressas, ninguém pensaria em cuidar do acervo cultural e artístico com tanto esmero e tantas atenções técnicas. Não foi, portanto, um salve-se quem puder, mas uma alternativa longamente planificada e preparada.
Mesmo assim, os fatos parecem ter-se precipitado, criando, nos últimos dias da permanência da corte em Lisboa, um clima de forte agitação e correria. O embarque da família real é ordenado por D. João VI para o dia 27 de novembro de 1807, pela manhã. Naquele dia, sob os olhares apreensivos da gente comum, nobres desembarcam nos escalares que os levariam aos navios. A frota deveria partir na manhã do dia 28, mas o mau tempo retém os navios no porto por mais 24 horas, enquanto as tropas francesas se aproximavam perigosamente da cidade. Na manhã do dia 29, enfim, “ao nascer do dia”, põem-se em movimento as oito naus de linha, as quatro fragatas e quatro embarcações menores, que levavam a corte e mais uns quarenta navios mercantes, onde viajava a elite econômica e social de Portugal. No total, mais de 15 mil pessoas, numa das maiores fugas oceânicas de que se tem notícia, partiram para o Brasil com todos os tesouros do reino, deixando nos cofres públicos apenas os títulos de dívidas.
A fuga mudaria a história do Brasil. A Colônia, promovida de um momento para o outro na capital de um império ultramarino, jamais seria a mesma.
A ARMADA
A armada que levou a Corte para o Brasil incluía vários tipos de navios: naus, brigues, fragatas, escunas, bergantins e corvetas. Alguns eram enormes, bem armados de canhões, capazes de transportar muitos passageiros e grandes quantidades de carga.
Outros eram mais pequenos e mais velozes. Além dos navios ao serviço da Corte, foram para o Brasil mais quarenta alugados por particulares que se meteram ao caminho à sua própria custa. Uma esquadrilha de quatro navios ingleses acompanhou a armada para dar apoio em caso de ataque no mar alto. O comandante da armada era Manuel da Cunha Sotomaior. Para se ter noção da grandiosidade da viagem, veja a seguir a descrição das naus que trouxeram a família real portuguesa para o Brasil.
_Naus:
* Rainha de Portugal (74 canhões)
Nesta nau viajou D. Carlota Joaquina com alguns dos filhos mais novos.
*D. João de Castro (64 canhões)
Nesta nau viajou o Duque do Cadaval, o Conde de Belmonte e o Conde de Redondo.
*Príncipe Real (80 canhões)
Nesta nau viajou a rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e o filho mais velho, D. Pedro.
*Princesa do Brasil (74 canhões)
Nesta nau viajaram as irmãs da rainha e duas princesinhas.
*Conde D. Henrique (74 canhões), Martim de Freitas (64 canhões), Afonso de Albuquerque (64 canhões)
*Fragatas: Medusa (74 canhões) - Minerva (44 canhões) - Jutra (32 canhões )- Golfinho (36 canhões)
*Brigues: Voador (22 canhões) - Vingança (20 canhões)
*Escunas: a Curiosa e Bergantins o Três Corações
PREPARATIVOS NO RIO DE JANEIRO
No Brasil o representante do rei de Portugal tinha o título de vice-rei. Na época o vice-rei era o Conde dos Arcos, que deu voltas à cabeça para organizar uma recepção devidamente animada e elegante e para preparar alojamentos onde instalar tanta gente. Em 1808 viviam na cidade do Rio de Janeiro cerca de 60.000 pessoas. Chegarem mais 15.000 de um dia para o outro era uma espécie de avalanche, uma "avalanche humana". Mas o Conde de Arcos não se atrapalhava com facilidade. Começou por despejar o Palácio dos vice-reis(1) e mandou limpar tudo muito bem para poder funcionar como residência real. Como este Palácio não tinha capela e ele sabia que as pessoas da Corte estavam habituadas a capela privativa, chamou carpinteiros e ordenou-lhes que construíssem rapidamente uma ponte de madeira ligando diretamente o Palácio à Igreja do Carmo, que ficava ao lado.
Quanto a estas medidas, todos concordavam, pois eram prédios públicos. Mas, como ele requisitou algumas habitações particulares para alojar gente da Corte, houve proprietários que ficaram revoltados com o abuso. No entanto, a maioria da população estava delirante. Nunca uma família real europeia pisara terras da América do Sul. Receber reis, rainhas, príncipes e princesas fazia as pessoas sentirem-se como personagens de contos de fadas. E a alegria natural dos habitantes do Brasil transformou logo os preparativos em grande festa.
Consta que D. João sorria e acenava feliz por se ver tão acarinhado. E que D. Carlota Joaquina chorava, talvez de comoção. Ninguém reparou especialmente nas reações do pequeno príncipe D. Pedro. Com nove anos, perante um ambiente colorido, barulhento, festivo, só podia estar maravilhado. Não podia era adivinhar que o destino tinha planos para entrelaçar a sua vida com o futuro daquela terra e daquela gente…
UMA ENTRADA TRIUNFAL
A armada reunira-se de novo e ancorara em frente ao Pão de Açúcar. Impossível descrever a euforia a bordo e em terra. Toda a gente ansiava pelo momento em que os canhões dariam sinal de desembarque. E isso aconteceu pelas quatro horas da tarde do dia 4 de Março de 1808. Ao primeiro "Boum", D. João desceu para um bergantim seguido da mulher e dos filhos. Enquanto os remadores faziam avançar a embarcação para o cais, os canhões atroaram os ares com salvas de boas vindas, repicaram em simultâneo os sinos de todas as igrejas, estalaram foguetes, bandas de música puseram-se a tocar, as pessoas davam vivas no maior entusiasmo. Guardas de honra formavam alas desde o cais à Igreja do Rosário onde estava tudo preparado para uma cerimônia religiosa destinada a dar graças a Deus pelo sucesso da viagem.D. João, D. Carlota Joaquina e os principezinhos seguiram em cortejo pelas ruas atapetadas de folhagens. As janelas das casas em redor tinham sido enfeitadas com grinaldas de flores, colchas de seda encarnadas e azuis. E as famílias vestidas com as melhores roupas e ostentando as melhores jóias debruçavam-se nas janelas a aplaudir.
RESIDÊNCIAS REAIS
Quinta da Boa Vista_ Rio de Janeiro
A família real, além do Palácio dos vice-reis que pertencia à coroa e foi posto à sua disposição, recebeu de presente uma quinta magnífica - A Quinta da Boa Vista em S. Cristóvão -, oferecida por um colono rico e amável. Essa quinta tornou-se a residência preferida de todos. Atualmente o Palácio de S. Cristóvão é o Museu de História Natural e Etnologia. A Quinta é um parque onde há plantas de todo o mundo.
D. JOÃO VI NO RIO DE JANEIRO
Com a chegada de D. João VI, o Rio de Janeiro entrou em ebulição. Várias transformações marcaram o cenário político-social da cidade: o Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas transformou o porto do Rio num importante centro financeiro-comercial; o crescimento populacional foi outro fator marcante, devido ao grande número de nobres e funcionários da corte portuguesa que formavam a comitiva do rei; a criação do Banco do Brasil e de novas instituições administrativas, trazendo para o Rio de Janeiro os ares da metrópole. Os hábitos culturais se modificaram, pois fazia-se necessário satisfazer a demanda de uma aristocracia que valorizava a cultura européia.
D. João VI encontrou uma cidade pobre, sem planejamento urbano e saneamento básico, com ruas estreitas, sujas e apinhadas de escravos, ambulantes e "bugres", escravos responsáveis pelo despejo de dejetos na baía. O Paço Imperial, residência oficial do Vice-Rei, possuía uma arquitetura pobre, sem adornos, ainda no estilo colonial "porta e janela", sem mobiliário adequado para receber um monarca e, sobretudo, muito pequeno para abrigar a comitiva rea. Outras residências serviram de abrigo para a corte: o Convento das Carmelitas, onde ficou D. Maria I; a Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional); o prédio da Cadeia, vizinho do Paço, que virou residência de aristocratas. Não satisfeito, D. João decretou que as melhores casas da cidade fossem cedidas para os nobres que ainda não tinham moradia. Cada casa escolhida pelos oficiais do rei deveria ser desocupada imediatamente, sendo a porta carimbada com as iniciais P.R. (Príncipe Regente), que, no humor nativo, logo se transformou em "Ponha-se na Rua".
Durante os treze anos de sua estadia no Brasil o regente português criou várias instituições culturais, como a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico, o Real Gabinete Português de Leitura, o Teatro São João (atual Teatro João Caetano), a Gazeta do Rio de Janeiro (sob censura régia), a Imprensa Nacional, o Museu Nacional, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Outras medidas que deram grande impulso à cultura foram a reorganização da Capela Real e a vinda da Missão Artística Francesa (1816), que trouxe ao Brasil nomes como Joachim Lebreton (pintor), Nicolay Antoine Taunay (pintor), Auguste Marie Taunay (escultor), Jean-Baptiste Debret (pintor), Augusto Henrique Vitório Grandjean de Montigny (arquiteto), Sigismund Neukomm (compositor, organista e mestre-de-capela).
A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi decisiva para a consolidação do país como nação independente, pois após o retorno da corte para Portugal a colônia agora já contava com uma estrutura de capital e com um principe regente, D. Pedro I, que anos mais tarde Proclamaria a Independência do Brasil.
ORGANIZANDO O CONHECIMENTO
1) Que evidências históricas são utilizadas para justificar a fuga da Família Real para o Brasil como tendo sido planejada?
2) Explique as conseqüências das guerras napoleônicas em relação a Portugal e Brasil.
QUEM VIVEU CONTA A HISTÓRIA
* Faça uma pesquisa de imagens sobre o Brasil, feitas por artistas estrangeiros como Debret, Thomas Ender, Taunay, August Earle, Rugendas, Martius e Spix. Anote suas conclusões a respeito da sociedade e da paisagem brasileira no início do século XIX.
PARA SABER MAIS
*Leituras
TUFANO, Douglas. Jean-Baptiste Debret. São Paulo:Moderna, 2000. Livro com farta iconografia de Debret, destacando a biografia do artista. Escrito em linguagem simples e acessível, voltada principalmente para o público infantil.
JAF, Ivan. A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro. São Paulo: Ática, 2001. (Col. História do Brasil através dos Viajantes). Adaptação do relato de John Luccock, um comerciante inglês que chegou ao Rio de Janeiro no período joanino.
* Filme
Carlota Joaquina, princesa do Brasil. Direção: Carla Camurati. Brasil, 1995, 100 min. De maneira bem-humorada, o filme conta a vinda de D. João e sua esposa Carlota Joaquina para o Rio de Janeiro, onde permaneceram por treze anos.
*Site
Um francês na corte do Brasil
www.estadao.com.br/ext/debret/catalogo.htm
O endereço acima, leva a um interessante catálogo virtual de imagens produzidas por Debret durante a permanência da família real portuguesa no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRAICK, Patrícia R, e MOTA, Myriam B.
História das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2006
MELLO, Leonel Itaussu de A. e COSTA, Luís César Amad. História – Construindo Consciências. São Paulo: Editora Scipione, 2007.
Paraná Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba SEED, 2006
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. As fontes históricas e o ensino da História. São Paulo: Scipione, 2004
LEGOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Editora da UNICAMP, 2003
SITES VISITADOS
http://www.arquenet.pt/portal/imagemsemanal/novembro0203.html
http://www.contelar.com.br/revista/edicao44/fuga1.htm.
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/vinda_da_familia_real
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